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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Conto do Dia dos Namorados: A Hora Chegou (Uma Flecha Que Voltou)

Epílogo: A hora chegou! É agora ou nunca.
Por entre os arbustos, eu estava baixado a observar a cena toda. Uma rapariga loira, nos seus 20 anos de idade que eu andei a perseguir o mês inteiro, tomando nota de todos os seus movimentos, horários, marcações e apontamentos, aproximava-se do ponto “x”.
Um rapaz, também da mesma idade da rapariga. Moreno, de olhos azuis, sobre quem eu tinha feito a mesma pesquisa, aproximava-se. Era este o seu destino. Se eu falhasse alterava o percurso de duas vidas. Era a minha cabeça que estava a prémio! O que valia é que já lá iam milhares de anos de treino, nunca falhara uma.
Arregacei a manga do meu braço direito, lá encontrava-se o meu símbolo, uma seta de tiro-ao-alvo rodeada de chamas, como se voasse a arder. Significava a paixão, louca, desigual que a seta proporcionava, agora era o problema das pessoas se queriam que a relação durasse ou não. Tudo o que podia fazer era iniciar, a duração… bem eu podia escolher, coisa que já fiz, mas como nem sempre correu bem… é melhor nem mexer nisso sem que os Fados me peçam.
Toquei no antebraço, na parte inferior da seta, durante dez segundos e materializou-se uma seta verdadeira na minha mão. Eu tinha de acertar mesmo nos dez segundos pois isso era o tempo que o feitiço duraria. Desta vez… bem… digamos que durante muito tempo não vão chatear-se com facilidade. Agarrei a seta e estiquei-a para os lados, tanto que se formaram duas setas. De um bolso do meu casaco retirei um mini arco, perfeito para as setas que, em si, tinham apenas uns cinco centímetros. Juntei a parte do fim da seta de tal maneira que, assim que saísse do arco, o vento rasgava-a em duas, novamente, e acertava no casal, ao mesmo tempo, provocando um “acidente” em que se conheceriam.
Tal como o plano que estava formado na minha cabeça sugeriu, eu juntei a ponta das setas e apontei. De repente, um estrondo suou e uma mulher nos seus trinta anos materializou-se ao meu lado. As setas soltaram-se com o susto. Uma bateu no chão. Do chão, bateu numa árvore, onde ressaltou e acertou numa gaivota, atravessando-lhe o coração e matando-a. As setas tinham esta particularidade: ressaltavam de objectos e plantas, como se fosse um trampolim. Apenas os animais absorviam as setas, mas como a magia que continham era forte e humana, provocavam quase sempre alguma doença, neste caso, a seta provocou-lhe um AVC.
A gaivota caiu mesmo em cima da rapariga alvo. Esta soltou um grito altamente agudo e saltou para trás. O rapaz alvo, que já tinha passado por ela, veio a seu socorro para saber o que passava com ela.
Eu, aproveitando este feliz incidente, tirei umas outras duas setas e conclui a minha missão, que teria sido fácil não fosse a minha querida mãe Afrodite aparecer e estragar-me tudo.
- É tão bom saber essa tua eficiência Eros. – Disse Afrodite, causadora do problema todo, enquanto olhava distraidamente para as suas unhas. - Bem filho, eu vim até aqui para te falar sobre a Zenita. Queria saber se já trataste do assunto.
Oh não… outra vez a conversa da treta sobre a sua “inimiga” mortal. Ela queria que eu lhe fizesse a folha, ou melhor, a fizesse apaixonar por o homem mais feio à face da Terra, só por ela ter ganho a Miss Mundo deste ano! Ela devia era estar grata por isso ter acontecido, porque se não acontecesse, ninguém se lembrar-se-ia dela. Ao verem Zenita, toda a gente passou a lembrar-se da expressão “Deusa Grega”, e por consequência, de Afrodite!
Enquanto nós passeávamos pelo parque, ouvindo as perseguições e ideias de como destruir a rapariga, não nos apercebemos do que se passara atrás de nós.
De tão preocupante que estava a situação, não me lembrei da segunda seta. Esta tinha batido no chão, voou, falhou o alvo e voou até acertar num vagabundo que procurava a sua próxima refeição num caixote de lixo próximo.
Este olhou para cima, meio atordoado após a colisão da seta. O vagabundo nunca tinha visto nada mais belo, nada mais perfeito! Uma mulher nos seus trinta, aproximadamente a mesma do vagabundo, passeava com um rapaz ao seu lado sobre quem se referia como filho. Tinha cabelo comprido, mesmo muito comprido, dourado. Uns olhos azuis mesmo lindos, como nada que ele alguma vez tenha visto na sua vida. E para por a cereja no topo do bolo, usava um vestido branco, lindíssimo.
Ele estava completamente apaixonado por ela.
- Aquela rapariga não pode andar por ai assim! E depois? Se começam a adora-la em vez de mim? Não pode ser, a ameaça tem de ser eliminada!- continuava Afrodite a discursar.
De repente veio uma rajada de vento e chegou-me um cheiro a podre, misturado com um cheiro a esgoto. Olhei para trás e um vagabundo estava a perseguir-nos, há quanto tempo estaria nisso não sei. Só sei que tinha uma aurora de fortemente apaixonado e como só estávamos os três no parque, era óbvio que era pela minha mãe. Bonito.
- Mãe, tenho uma coisa para te contar. – Disse-lhe, interrompendo, o que não era nada bom. – Lembraste que eu há bocado mandei duas setas? Bem uma delas vimos o que aconteceu… a outra está atrás de nós…
Afrodite entrou em pânico. Olhou por todo o lado e viu o que me referia. Era horrível de se ver! Barba grande como um pai Natal, preta, toda desajeitada. Ela ia-se enjoando toda só de o ver. Roupa toda rasgada, com remendos. Um gorro na cabeça cheio de terra e imundices. Era horrível.  
- E agora o que vamos fazer filho? – Disse Afrodite completamente aterrorizada. Se tivessem de recorrer aos fados, ela estava tramada. A última vez que teve de ir ter com Clothos, bem, não correu para o melhor e Zeus acabou por bani-la de as visitar.
- Não sei mãe.
Bem… eu na verdade sabia o que fazer. Não queria era dize-lo. Eu queria dar uma prenda à minha mãe, uma vez que hoje é o nosso dia. Dia 14 de Fevereiro, também conhecido por dia do amor. Hehe, e que bela prenda que ela ia ter, afinal os Fados sabem sempre tudo.
Uns quilómetros mais a frente, eu arranjei a desculpa de que precisava de ir à casa de banho e pus o meu plano em marcha, e quem melhor que eu para unir casais! Paramos num café e a Afrodite ficou sentada a beber o seu chá de Camomila, eu dirigi-me para as traseiras do café, de modo a fugir ao olhar pouco distraído dela. Quem é que haveria de encontrar? O vagabundo que estava perdido de amores por Afrodite. Claro, isto já não era uma surpresa. Afinal a dose que levou foi bastante forte. Combinei que ele fosse ter à nossa mesa dentro de 2 minutos enquanto eu me escondia na esquina do café. Por esta altura, a minha mãe já se teria fartado de estar à minha procura e ter-se-ia dedicado a beber o seu chá e ler uma revista de fofoquices, não vendo quem se dirigia a ela sorrateiramente. Eu agarrei numa seta, de duração de uma semana, sim isso devia chegar, e apontei para a minha mãe no momento em que o vagabundo, cujo nome era John, e zás. Está feito. Agora era só observar a cena.
Afrodite olhou para trás e viu o seu grande amor olha-la nos olhos com os seus olhos acinzentados, cor mais linda que ela alguma vez viu. Apesar do cheiro e roupas sujas, barba por fazer, Afrodite não conseguia evitar de pensar que este era o homem dos seus sonhos. Tinha de o levar para o seu palácio. Ai, tão apaixonada que ela estava.
Eu ri-me tanto ao ver desenrolar a cena toda, mas tinha de ser. Se não fosse assim, ela nunca iria aprender a lição e assim podia ser que deixasse a pobre da Zenita em paz.