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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma Flecha Que Voltou... - Capítulo 1: Primeiro Encontro

Um despertador cor-de-rosa choque tocou às 7 da manha. Pelo meio de lençóis lilases, encontrava-se Clare. Também conhecida por “Cobra, Louca, Arrogante, Ruim e Enfadonha” mas, claro, isso só se sabia por trás das costas dela.
- Hurgh, já são 7 horas… - e com isso, Clare mandou uma grande chapada ao despertador que foi disparado ao chão, partindo-se em mil bocados.
De repente, entra um West Highland Terrier branco pela porta, a ladrar, mesmo direitinho à cama.
- Tikky! Sai de cima de mim! Está bem, eu levanto-me.
Bastou Clare dizer isso para a amostra de peluche com caracóis brancos e de coleira vermelha, a que ela chama de cão, saltar da cama e ir disparado pelas escadas a baixo.
Tinha começado mais um dia na vida de Clare.
Clare levantou-se da cama, vestiu a sua roupa favorita: uma minissaia miu miu preta, que deveria ser para criança mas estava prestes a ser usada por uma rapariga de 17 anos; um top com um decote escandaloso do Marks and Spencer e umas botas de salto alto de pele de cobra. Ela tinha de manter o seu estatuto de “miss popular”, como é óbvio. Não podia ir com uma roupa qualquer! Tinha de ser tudo do bom e do melhor, como era a tradição da família. E como tal, Clare dentro de 8 meses estaria a entrar na Universidade de Oxford, não fosse o pai dela um grande empresário de bolsos bem largos.
- Querida! Você já está pronta? O pequeno-almoço já está na mesa. – disse uma voz feminina, mesmo com um sotaque “à tia”, do outro lado da porta do quarto, mas Clare não ouviu. Estava na sua casa de banho privada, enchendo os seus olhos verdes de rimmel, completando o seu quilo de maquilhagem diário.
Quando abriu a porta da casa de banho, esbarrou com uma senhora nos seus 40 anos, cabelos bem louros, encaracolados e curtos. Bela tinha olhos verdes, tal como a sua filha, Clare.
- O que é que estás aqui a fazer mãe? – Inquiriu Clare com a sua voz fina, aguda, mesmo naquele ponto irritante.
- Eu estava a chama-la para ir tomar o pequeno-almoço. A empregada já o pôs na mesa. – Respondeu-lhe a mãe, com a sua voz nasal, igualmente irritante.
Clare acabou de retocar a sua maquilhagem e arranjar os seus enormes cabelos louros e desceu a escadaria de pedra para a sala de jantar, onde cabiam umas dez pessoas sentadas em volta da mesa.
- Mãe, o pai ainda não voltou? – Clare disse quando viu a mesa cheia de torradas acabadinhas de fazer, fruta, mas ninguém para comer essas delícias.
- O seu pai ainda não voltou de Nice – Respondeu-lhe a mãe, sentando-se à frente dela na mesa e preparando-se para comer.
Clare suspirou. Era muito raro ver o pai. Ele andava sempre em viagens e em reuniões e, quando estava lá em casa, era por pouco tempo pois a sua mãe começava a discutir com ele.
Clare terminou o seu pequeno-almoço composto por uma amostra de torrada de pão integral, não se pode descuidar com o seu peso porque afinal de contas o tamanho seis inglês é difícil de se manter, um copo de sumo de maracujá e cenoura, receitado pela dietista privada dela, e por fim uma papaia. Entrou no seu Audi descapotável e foi a caminho da escola.
O seu Audi era como uma segunda casa para ela. Ela agarrava nele e punha-se a conduzir sem destino, ao som da sua música favorita, o que estivesse na posição número um na América ou na França ou Inglaterra. Conduzir era como um calmante para Clare. Era o melhor que tinha na vida! Isto é, quando não está ocupada demais a ser a senhora popular lá da escola.
Rapidamente acabou o seu oásis pois tinha chegado à escola e já tinha o seu grupo de fiéis seguidoras em seu redor. Estariam lá à espera dela perto de meia hora.
- Clare! – Uma delas disse, era a cópia quase exacta dela, apenas tinha cabelo castanho encaracolado e um ar arrogante.
Cumprimentaram Clare e seguiram para entrar no colégio.
O barulho de uma Harley Davidson Rocker C 2008 azul entrou pelo parque a dentro e estacionou a 50 metros de onde se encontrava Clare, que estava espantada a olhar para quem conduziria aquela mota. Naquela escola eram poucas as pessoas que tinham uma mota, muito menos as que tinha uma daquelas. Era uma mota mesmo muito vistosa, com chamas prateadas e pelo meio uma espécie de seta de madeira com ponta de pedra, daquelas utilizadas no desporto de tiro ao arco antigamente.
Que estranho que era! Mais parecia um símbolo do que propriamente uma pintura na mota.
Entretanto, o condutor tirou o capacete. Tinha cabelo ondulado, dourado. As calças estavam meio desgastadas, como a moda manda, mas tinham aspecto de novas e tinha um casaco de cabedal. Clare perguntara-se quem seria esse rapaz…
Clare conhecia todos os rapazes bonitos da escola, cidade e arredores e nunca tinha visto este. Ele devia ter-se mudado recentemente, ou seja, no dia anterior. Mais cedo que isso e já lhe teriam contado.
- Vamos andando? Já tocou. – Inquiriu Rose, uma rapariga loura, de olhos azuis e com um aspecto de burra que nada tem a ver com o cabelo e olhos. Clare distraiu-se com essa pergunta e perdeu o rapaz de vista. Que pena, pensou. Dirigiram-se para dentro do edifício onde iam ter aulas.
- Sabes as últimas? – Perguntou Rose, claramente para picar Clare sem que esta se tenha apercebido de tão distraída que estava. – O T.G. deixou aquela nojenta da Melanie. Tens o caminho aberto.
T.G., o rapaz mais popular da escola, bonito, forte, atlético, querido, romântico, também conhecido por O SEU EX.
- E o que é que eu tenho a ver com isso? – Clare respondeu, claramente desinteressada. Até porque ela já tinha andado para a frente, há uns minutos atrás mais precisamente.
Passaram pelas salas de cada uma, mesmo ao lado umas das outras, apenas a de Clare ficava ao virar o corredor, o que dava jeito: proporcionava a Clare uns minutos de paz e, mais importante - ficava ao lado dos cacifos. Por entre a confusão, Clare foi para o seu corredor, com o seu andar provocador de nervos nas outras raparigas.
Ao virar a esquina, um aroma doce e amargo, suave e forte. Parecia ser a maçã com canela e ao mesmo tempo à brisa do mar num dia de verão, mas que rapidamente acabou porque esbarrou com alguém ao virar da esquina, de tão intoxicada que estava. Por sorte ninguém viu, pois o corredor tava vazio e de donde ela vinha não dava para ver.
Pelo chão espalharam-se livros, cadernos, malas, lápis, canetas, casacos… até eles os dois foram parar ao meio do chão. Clare estava mesmo para dizer para ver por onde andava até que reparou que tinha chocado com o rapaz da mota.
- Peço desculpa – disse o rapaz com uma voz grossa, masculina. Os seus olhos perfuraram a alma de Clare. Uau, ela nunca viu uns olhos assim… eram mesmo magníficos.
- Eu estava a tentar ir para a sala 68 mas perdi-me pelo caminho. – Ele continuou. Ela não sabia porque notava uma certa familiaridade. Já sabia o que era. O seu irmão! Ele era bastante parecido com ele… Clare ao lembrar-se disso sentiu uma enorme melancolia percorrer-lhe. Ela não via o seu irmão desde… desde que foi deserdado por ter fugido com a empregada! Isso acontecera há uns 5 anos e deixara um grande vazio nela porque ele fora um grande apoio para ela. Quase como um pai.
- Hum, essa sala é ao lado da que eu vou ter aulas, eu levo-te lá – Clare respondeu-lhe um pouco engasgada com o nó que se estaria a formar na garganta.
- Ainda nem me apresentei, sou o E… Caleb – disse o rapaz, um pouco agitado. Clare notára uma tatuagem, do mesmo símbolo que a mota tinha, no braço direito de Caleb quando o esticava para apanhar um dos seus livros. Por esta altura, Caleb já só estava com uma camisola com as mangas arregaçadas.
- Clare. – Disse lhe ela, por esta altura já estavam praticamente a chegar a sala.
- Então até já – E com isso, Clare despediu-se dele. Ao atravessar o corredor, a única coisa que conseguia pensar era nos seus olhos verdes, místicos.